Iam vestidos a preceito, e não era por nossa causa. Só o maioral e o Pedro levavam o colete e a camisola de xadrês debruado a burel recortado, mas quase todos nos impressionaram pelo inesperado aprumo. Colete de lã feito no alfaiate (tema para outro post), chapéu de feltro (de coelho para os mais velhos, de lã para os mais novos) de aba curta e revirada e copa baixa moldada pelos dedos para formar um bico nos dias de chuva por onde a água escorre mais facilmente (só as maneiras de o pôr mais para a frente ou para trás dariam matéria para umas páginas…) e o indispensável cajado, de pau de marmeleiro ou de outra madeira que não apontei (Diane, lembras-te?), uma melhor para o tempo seco e outra para o inverno, bordado no topo à navalha por quem sabe. O cajado apoia a marcha, afasta o mato, manda parar e mudar de sentido, caleja a palma do pastor e às vezes voa para chamar o bicho que saiu do caminho.
E o alforge, que não pensei ver ainda a uso. Levavam alforges de xadrez o pastor Américo e de pano castanho o jovem Miguel, sobre a t-shirt benetton e o blusão de ganga, e ainda o ouvi ralhar a um mais velho que levava uma discreta mala térmica ao ombro que aquilo não ficava bem ao pastor. Mas do casaco também se faz alforge, atando-lhe um pedaço de corda no punho de uma manga, outra coisa que nunca tinha visto fazer. Foi na manga que o Pedro levou a garrafa serra acima.
E, ainda, a pesada capa de burel, agasalho e manta, longa, com capuz e forrada em cima com o mesmo xadrês, que quando ensopada de chuva chega a pesar 70 quilos.
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